Na desocupação do campus da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) no Maracanã, foi registrada confusão entre os manifestantes e policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar. Policiais usaram bomba de efeito moral. O deputado federal Glauber Braga (Psol), que estava no local dando apoio aos estudantes, foi preso. Também foram detidos três alunos, dois dos cursos de enfermagem, oceanografia, e outro de jornalismo, por outra faculdade. Os quatro foram levados para a Cidade da Polícia em um ônibus da PM. O uso de força policial foi autorizado pela Justiça. Um policial ficou ferido na ação.
O comandante do Batalhão de Choque, André Batista, afirmou que houve resistência na desocupação:
— Teve muita resistência, obviamente, com paus e pedras e toda sorte de eventos contra a polícia, mas o batalhão de polícia de choque foi muito bom. Muitas pessoas ocupavam, a gente não tem o número certo.
De acordo com o militar, os estudantes foram presos porque estavam obstruindo o cumprimento da decisão judicial.
— O deputado se interpôs entre o cumprimento do mandado judicial e a polícia. Inclusive abraçou um dos estudantes — afirmou André Batista.
O comandante explicou ainda que o policial militar "foi ferido por um problema de manipulação do artefato explosivo".
Na cidade da polícia, Glauber e os três estudantes, além de militares envolvidos na detenção dos mesmos, seguem prestaram depoimento e foram liberados por volta de 21:50h. O deputado federal foi fichado na Delegacia de Roubo e Furto de Automóvel (DRFA) e ainda não se sabe por qual crime os envolvidos foram autuados. Do lado de fora, muitos estudantes da Uerj, manifestantes e apoiadores do parlamentar aguardam pela saída dos detidos.
O representante da comissão popular de direitos humanos do Rio e candidato a vereador, Rodrigo Mondego, foi até a cidade da polícia para acompanhar os detidos. Segundo ele, há provas de que não houve qualquer tipo de resistência por parte dos estudantes e do Glauber Braga.
— A gente tem imagens do momento da detenção dos estudantes e do deputado Glauber Braga. A partir delas, fica nítido que em nenhum momento cometem um crime ali. Eles estavam saindo do prédio da Uerj. Então, não caracteriza um crime de desobediência, resistência de sacada ou qualquer outro que porventura seja imputado para eles — afirmou Mondego.
'Detido ao defender estudantes'
A assessoria de Glauber Braga informou que o deputado foi detido "ao defender os estudantes da Uerj que estavam sendo ameaçados e agredidos pela Tropa de Choque (que pela primeira vez na história entrou na Uerj)". Ainda de acordo com a nota, "os estudantes participavam de uma ocupação na universidade, lutando contra cortes no orçamento da política de permanência estudantil destinada a estudantes pobres". O texto acrescenta que a detenção é ilegal, "já que um deputado federal só pode ser detido em flagrante por crime inafiançável."
Em nota, o deputado estadual Flavio Serafini, presidente do Psol/RJ, criticou a prisão:
"É lamentável o que aconteceu na Uerj hoje. O deputado Glauber Braga, jornalistas e estudantes foram presos, em um episódio que jamais deveria ocorrer em uma universidade pública. A luta dos alunos por seus direitos precisa ser ouvida e respeitada, e não respondida com repressão. Nossa solidariedade a Glauber, aos jornalistas e estudantes da Uerj. Repúdio a qualquer forma de violência que impeça o diálogo e o avanço da educação pública. O Psol-RJ vai trabalhar incessantemente para garantir a soltura imediata de todos os envolvidos", disse Serafini.
A determinação para a desocupação partiu da juíza da 13ª Vara do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Luciana Losada Albuquerque Lopes. Por volta das 13h30, um oficial de Justiça acompanhado de homens do BPChoque chegou à universidade para retirar os estudantes.
A magistrada arbitrara multa diária no valor de R$ 10 mil aos réus e autorizou uso da força policial, se necessário. "Requer, ainda, a expedição de mandado de imissão na posse com uso de força policial suficiente e necessária à desocupação completa dos prédios da Uerj", escreveu a juíza em um dos trechos da decisão.
Mais cedo, em nota, a reitoria da universidade informou que os manifestantes se recusaram a sair e seguiam bloqueando todas as entradas do Pavilhão João Lyra Filho. A Uerj informou ainda que, diante da recusa dos estudantes em sair, a chefia da segurança não teve alternativa a não ser pedir que os agentes recuassem e salvaguardassem o patrimônio, restringindo a entrada de novos manifestantes no campus.
A mobilização dos estudantes da Uerj foi uma reação a mudanças no critério para que alunos de ampla concorrência em vulnerabilidade social consigam a Bolsa Auxílio Vulnerabilidade Social (Bavs), além da restrição do pagamento do auxílio-alimentação para alunos de cursos que fiquem em campi que não tenham restaurante universitário e mudanças no auxílio para material didático, antes pago a cada seis meses, para um pagamento anual de R$ 600.
A universidade respondeu que foram publicados novos Ato Executivo de Decisão Administrativa (Aedas), de números 41, 42 e 43, atendendo no limite máximo possível as reivindicações dos estudantes. "Assim, alterando a decisão anterior, a Uerj seguiu oferecendo um auxílio de transição para os alunos que perderam as BAVS no valor de R$ 500, mais R$ 300 de auxílio transporte e tarifa zero nos restaurantes universitários (RU) - nos campi em que não tem RU, os estudantes continuaram a receber o auxílio alimentação de R$ 300. Essas medidas foram tomadas na semana passada e os primeiros pagamentos estão sendo feitos no dia de hoje (18/9)", informou a nota.
Confira a nota da universidade
No dia de ontem (19), após a determinação da juíza da 13ª Vara do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, exigindo a desocupação imediata dos prédios da Uerj, os manifestantes se recusaram a sair e seguem bloqueando todas as entradas do Pavilhão João Lyra Filho, em flagrante e criminoso descumprimento de decisão judicial.
Com os rostos cobertos em sua maioria, resistiram às tentativas dos agentes patrimoniais da Uerj, no sentido de retirar os itens que impedem o amplo acesso ao prédio no campus Maracanã. De forma violenta, portando paus, canos e armas brancas, investiram contra os agentes, chegando a usar o jato d’água de uma mangueira de incêndio, como evidencia um vídeo que circula na rede.
A chefia da segurança não teve outra alternativa a não ser pedir que os agentes recuassem e salvaguardassem o patrimônio, restringindo a entrada de novos manifestantes no campus. No entanto, vários deles pularam a grade e partiram para o confronto.
Fora das dependências da Uerj, dois oficiais da PM tentaram conter a entrada desses novos integrantes da ocupação.
Com a escalada da violência por parte do movimento de ocupação e a afronta à decisão judicial, a Uerj comunicou o Tribunal de Justiça e aguarda as providências para que a reintegração de posse seja concretizada, com vistas à retomada das atividades letivas. Também em função desse contexto, o expediente do campus Maracanã foi suspenso no dia de hoje (20).